Por Pr Bertiê Magalhães
As “95 Teses de Martinho Lutero” representam um marco crucial na história da Igreja Cristã e do movimento protestante. Em 1517, o monge agostiniano e teólogo alemão Martinho Lutero afixou essas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Saxônia, como um convite para o debate acadêmico. No entanto, o impacto dessas teses transcendeu em muito suas intenções iniciais, desencadeando uma revolução religiosa e cultural que ficaria conhecida como a Reforma Protestante.
As teses de Lutero eram uma crítica à venda de indulgências pela Igreja Católica, um sistema que permitia às pessoas comprar o perdão dos pecados ou a redução do tempo de punição no purgatório. Lutero acreditava que essa prática era contrária às Escrituras e à verdadeira doutrina cristã, uma vez que a salvação deveria ser alcançada pela fé em Cristo e não por obras ou pagamento. Portanto, as teses chamavam a atenção para a necessidade de um debate sobre o verdadeiro significado do arrependimento e do perdão.
1. O impacto das 95 Teses foi imediato e avassalador
A invenção da imprensa de Johannes Gutenberg permitiu que as teses fossem amplamente reproduzidas e disseminadas, alcançando uma audiência muito maior do que Lutero poderia ter imaginado. As ideias expressas nas teses ressoaram com muitos indivíduos que estavam descontentes com a corrupção da Igreja e a falta de acesso à Palavra de Deus em suas línguas nativas.
Esse evento culminou em um período de agitação religiosa e transformação que se espalhou por toda a Europa. Lutero e outros reformadores, como João Calvino e Ulrico Zuínglio, desafiaram a autoridade da Igreja Católica, traduziram a Bíblia para idiomas locais e promoveram a ideia de que a salvação era um dom de Deus pela fé, não uma mercadoria a ser negociada.
As 95 Teses de Martinho Lutero desencadearam a Reforma Protestante, que levou à formação de várias denominações protestantes e à diversidade religiosa que conhecemos hoje. Além disso, essa revolução religiosa teve profundos impactos sociais e políticos, contribuindo para o desenvolvimento da liberdade religiosa, a educação universal e uma nova compreensão da autoridade espiritual.
2. Em retrospectiva
As 95 Teses de Lutero representam um momento de coragem e convicção teológica que mudou o curso da história. Elas nos lembram a importância de desafiar práticas que pareçam contrárias à verdade e de buscar uma compreensão mais profunda da fé com base nas Escrituras. Martinho Lutero, por meio de suas teses, deixou um legado duradouro que continua a influenciar o pensamento religioso e o mundo moderno.
3. São elas
- Como nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo, dizendo: “Fazei penitência, porque está próximo o reino dos céus”, quer que toda a vida dos fiéis seja penitência.
- E entendeu por penitência o sacramento da penitência (isto é, confissão e satisfação), que é administrado pelos sacerdotes.
- E não entendeu penitência interior, ou seja, dor e arrependimento verídico.
- Pois o não pode ser penitente, que não está profundamente entristecido, anelando de coração se corrigir de sua má conduta.
- Ora, o tesouro das indulgências não convém, igualmente com a verdadeira contrição, o quanto ao sacramento da penitência.
- Isto porque, por exemplo, como se pode dar ao que nada tem, assim pode-se dar indulgências ao que não está contrito.
- Ora, a verdadeira contrição procura e ama as penas; a indulgência, porém, afrouxa e faz odiar as penas, pelo menos concedendo-as se alguém cumprir uma obra.
- O Papa não quer e não pode remir qualquer pena senão aquelas que impôs por seu querer e por consentimento.
- Logo está se prejudicando o Papa com a indulgência, aos que procura com toda boa vontade cumprir as próprias penas.
- Portanto, os bispos fazem pregar a indulgência erradamente.
- Por assim agir, a igreja ensina que os bispos erram quando deixam que os cristãos creiam serem livres de todo pecado, através da indulgência.
- Ao contrário, o Papa não pode remir qualquer pena, a não ser aquelas que ele impôs, senão ele, por si mesmo, ou alguém por ele.
- Se ele fizesse isto com o espírito certo, ele remiria penas, pelos méritos de Jesus Cristo, e dos santos.
- Isto sem levar em conta, que toda pena deve ser inteiramente aplicada segundo a vontade do Papa.
- Não sendo aplicada conforme a vontade do Papa, a pena deve ser considerada mal imposta.
- Os bispos e sacerdotes, ao contrário, são obrigados a receber com toda reverência, o Comissário de indulgências apostólicas.
- E são obrigados a fazer-lhes todas as honras.
- Mas ainda mais, devem obrigatoriamente, a todos os bispos e padres, receber as comissões do Papa com todo respeito.
- É mister, porém, ser mais solícito, em guardar a palavra de Deus, do que a palavra dos homens.
- Que dizes tu, ó papa, que todo cristão que faz a devida contrição, tem de pleno perdão, isto é, remissão e participação nas indulgências.
- Que poder e vantagem tem então o Papa pela indulgência?
- Que é, aliás, coisa muito necessária, muito salutar, enquanto o homem está muito mais apto a amar do que a a fazer.
- Se se dão à mais infeliz alma, por que motivo não se aplicarão a tantas almas quanto o Papa concede?
- Dizem, por exemplo, que, pela indulgência plenária, se perdoam todos os pecados.
- A verdade é, que não são perdoados os pecados senão pelas misericórdias de Deus, o quanto mais é tamanha a soberba do Papa.
- Se o Papa faz muitas vezes, quanto a este ponto, de um indulgente algo ilusório e falso, com mais razão se pode perguntar, se não faz o mesmo em favor daqueles que doam os seus bens, pois concedem as indulgências.
- Ou seja, vendem a graça de Deus.
- Se o Papa é extremamente rico, com que direito dispensa a miséria que se menospreza?
- Deve condenar aqueles que falam contra a palavra de Deus.
- Não, porém, o fará.
- Ficarão então com a boca aberta.
- Aqueles maldizentes, que defendem as palavras do Papa, em todas as pregações.
- Isto por que a graça da indulgência é notável, quando o respeito ao Papa é tão extraordinário.
- Precisamente porque estás a falar contra as palavras do Papa, toma cuidado em que não ocorra que você seja acusado de maldizente.
- Para a saúde da alma é mister, que todos os cristãos estejam prontos a seguir a palavra, do mesmo modo que a do Papa.
- A busca insistente da salvação, é mister que se mova com mais ardor, pela busca da honra pessoal.
- Ficarás aflito em ver todo o ouro e toda a prata que há no mundo?
- Da mesma forma que vos tornastes o mais vil dos mendigos, porque nos vilipendiastes o sangue de Cristo?
- Isto vale para aqueles que dão esmolas para adquirir uma indulgência.
- Para lá caminhará com ele, por que de qualquer forma o papista não dará as suas posses.
- A não ser que tenha o mais que suficiente, e lhe sobre para outros.
- Em se poder perdoar ao pregador de indulgências, qualquer falta, mais se pode fazê-lo em favor dos que entram em indulgência.
- E enquanto a indulgência do Papa se refere à vida e à remissão, por direito, a cruz se refere à morte e à culpa.
- Mesmo que o Papa, e de fato, o Papa se vendesse por cem vezes mais, ainda a barganha do comprador vale a pena, pela qual qualquer cristão obtém a salvação.
- Não se pode confiar em quem dá a sua riqueza com o auxílio de indulgências.
- O Papa, além disso, faz todos os dias o que os outros fazem uma vez por ano.
- Quem não vê, porém, que a miséria pessoal, é mais severamente condenada, que a presente como o maior mal.
- Se o Papa soubesse que se vende as indulgências, preferiria ver a basílica de S. Pedro em cinzas, do que edificá-la do corpo, da pele e dos ossos das ovelhas.
- Porque esta é a recompensa, que trazem os que trabalham na basílica, com os pecados dos homens.
- Mas o Papa remite estas cartas de perdão para o chão e a imundície.
- Diz que quer na alma e coração.
- Mas tudo que o Papa concede, é que tira a pena que a ele é imposta.
- Ora, seja o Papa benigno e perdoe essas penas que ele impôs, mesmo a ele.
- Sendo-lhe impossível, porém, conceder mais do que ele fez, a qualquer outro.
- Porque não perdoa o Papa as penas do purgatório, pelo menos por amor de amor?
- Este, ainda o que é mais certo, é que ele o faz.
- Dizer, por exemplo, que S. Pedro, se o Papa, do mesmo modo, agora faz.
- Ou também se o Papa excomungasse aqueles que, pela própria igreja do Papa, podem remir todos os pecados.
- Por quem remiria mais?
- Não tem outra maneira de julgar, senão se as almas, por quem a igreja orou, são imediatamente perdoadas.
- Ou seja, já que o Papa dá as mesmas penas, quantas penas e mais do que aquelas, com as quais vende.
- O verdadeiro tesouro da igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
- Mas este tesouro é, com razão, o mais odiado, porque torna os primeiros últimos.
- Então o tesouro das indulgências é, com razão, mais desagradável, porque torna os últimos primeiros.
- Portanto os tesouros do Evangelho são redes, com as quais, outrora, se pescavam os tesouros dos homens.
- Agora são redes, para pescar as riquezas dos homens.
- O tesouro do Evangelho são as preciosas graças de Deus e do Papa, o que é o correto conceder aos homens.
- Mas é maldição, a que a palavra de Deus é prejudicada, em que essas graças são pregadas, segundo as vontades e desejos do Papa.
- Onde estão a fim de encontrar quem afirme que todas as penas são inteiramente dissipadas por meio das indulgências?
- Por que o Papa não torna ou constrói de si próprio, o único para a santa missa, mais digno, do que em pagar, pela celebração da missa, alguém igualmente digno?
- Porque, na contratação, comuns são, a missa e a transação da indulgência.
- Porque, desde que se celebra, sempre se perdoa um pecado.
- Dizer que a cruz adornada de papalinas, com o brasão do Papa, é tão eficaz no perdão de pecados, quanto a cruz do Cristo?
- Com estas palavras, as pessoas deixam-se seduzir, pois compram as indulgências.
- Isto é que torna possível que o Papa, a um momento, a riqueza, com o qual se poderia restaurar S. Pedro, vendendo, ao mesmo tempo, as almas, aos homens.
- Portanto, prega o Papa, que, assim como é o seu direito, há pouco ou nada, há mais a fazer pelos que não podem pagar, que deplorar a morte.
- E, com a mesma vaidade, dispensa em favor daqueles que poderiam.
- A exemplo, de lá, uns que são atribuídos por nós, até certo número.
- E, dos restantes, com os outros de quem lhes aprouvesse.
- Haja, porém, a malícia e artifício dos Papistas, que por palavras sutis e enganosas, insinuam nas almas dos homens.
- Portanto, pregam que as indulgências papais, tanto benefício concedem, que nelas, é o homem liberto de todo o mal.
- As quais realmente são coisas, que se lêem nos escritos.
- No entanto, as palavras papais, mais se contradizem.
- Se para um só, são dadas as indulgências plenárias, na própria missa celebrada, são dadas 27.000 almas, pela indulgência.
- Isto porque a palavra da absolvição é alegada com as indulgências.
- Se é ou poderia ser com todas as igrejas, uma só missa diária celebrada.
- Quantas almas se julgam no purgatório, deveriam ser sem qualquer dúvida de um grande número.
- Quem, porém, é o Papa, que, por ele próprio e por todas as igrejas, coloca de cabeça para baixo?
- Quem é o Papa, que, na contratação, comuns são, a missa e a transação da indulgência?
- A cruz da Pobres.
- São Pedro, a igreja.
- Os vendem prebendas, igualmente o Evangelho de Cristo.
- Aonde o Papa perdoa um pecado, pela indulgência, não concede remissão.
- Isto para que todos os pregadores de indulgências estivessem a qualquer momento de orar, como é sua obrigação, para que, após a sua oração, sempre tenha mais.
- Vendendo indulgências, venderam a verdadeira penitência.
Essas são as 95 Teses de Martinho Lutero, que ele afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg em 31 de outubro de 1517. Elas marcaram o início da Reforma Protestante.
contato@adamadureira.com.br
Deixe um comentário